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Quem paga essa conta?



Essa é a pergunta que ecoa para além dos meus ouvidos quando vejo ou ouço acerca das manifestações públicas que, finalmente, saíram das redes sociais e invadiram as ruas das cidades de nosso País.
Que fique claro, de início, que nem me passa pela cabeça ter que discutir acerca de vandalismo ou depredação de patrimônio público quando temos nosso bem jurídico maior sendo insultado dia após dia por aqueles que, por ingenuidade, ignorância ou até falta de sensatez, escolhemos para nos representar.
Cansei de ler em posts do facebook: “fulano não me representa” e minha resposta calada era: “representa sim, você o colocou lá”. 
O fato é que todos nós somos responsáveis por mensaleiros e mensalões, pelo dinheiro na cueca ou em uma conta no Banco de Boston, pelo postinho de saúde que fechou por falta de verba, pela gestante que abortou por falta de atendimento, pelo professor desempregado por falta de recursos, pelo catador de lixo reciclável, pela ausência de boas creches, pelo aumento abusivo e injustificado do valor do precário transporte coletivo, por uma proposta vergonhosa de emenda constitucional (escrita assim, em letras minúsculas mesmo) que visa alimentar ainda mais um sistema já engolido pela ganância, vaidade e corrupção. Isso ainda é o mínimo, diante de tantas outras mazelas que o dicionário não daria conta de descrever. 
Falta Aurélio pra tanta escassez. Sobra indignação.
Quando leio ou ouço pessoas se questionando acerca dos (aspas) míseros R$0,20 (vinte centavos) tamanha a proporção que o movimento tomou, fico me perguntando: em que mundo você vive? Mas a resposta vem meio que a galope: “no mundo do eu”. Sim, neste mundo realmente não há que se preocupar com o aumento de R$0,20 na passagem de transporte coletivo, também não há espaço para pensar em postinhos de saúde, creches ou melhoria na educação pública. Isso tudo não entra no mundo do eu.
Mas, voltando ao “mundo do nós”, me emociona ver uma multidão enfurecida bradando por justiça, paz, transparência, salas de aula, melhores salários, melhores condições, fim da impunidade, da corrupção e tantos outros objetivos legítimos.
Impulsiona ver uma multidão de verde e amarelo mostrando a voz e a vez. Mostrando o que estava latente dentro de nossas casas e só não viu quem não quis. 
Afinal, somos nós os filhos desta Pátria. Somos nós que escolhemos quem nos representa. 
E também somos nós, apenas nós, que pagamos essa conta. Pense nisso.

Luciana Chemim 

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