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Mamãe, Quero uma Tatuagem

De Kanitz
Mais dia menos dia, muitas mães terão de enfrentar esta questão.
O  que dizer quando o filho e filha informa que pretendem fazer uma tatuagem e a maioria dos pais não tem uma resposta formada?
Aí, não sabem exatamente o que responder, especialmente se você é uma mãe que luta por uma filha independente e lutou pela liberdade de expressão.
A maioria dos pais que se opõe à uma tatuagem usando um argumento totalmente idiota.
A de que uma tatuagem “é para sempre”.
É um argumento cretino, por várias razões.
Se um dia a sua filha de quinze anos lhe disser que está loucamente apaixonada pelo homem da sua vida e quiser casar-se, você argumentaria contra, só porque o casamento “é para sempre”?
Se seu filho lhe comunicar que pretende casar-se e ter um filho, você argumentaria contra, só porque um filho “é para sempre”?
Tatuagens são para sempre, eles já sabem disto, e estão dispostos a arcar com as consequências.
Este seu argumento não levará a nada.
Tatuagem é uma questão complicada, filosófica, porque envolve uma dezena de pontos que infelizmente você provavelmente nunca discutiu com seus filhos, como estética, ética, política, psicologia, direito, liberdade, propriedade privada, sociedade e assim por diante.
Eu não tenho opinião formada sobre o assunto, mas colocarei algumas questões que todo pai e todo jovem deveria pensar antes de fazer uma tatuagem.
Tatuagens são para sempre, eles já sabem disto, e estão dispostos a arcar com as consequências.
Este seu argumento portanto não levará a nada.
  1. Você pode discutir as consequências de se ter uma tatuagem.
A dificuldade de se arrumar vários tipos de empregos, o preconceito de pessoas contratarem neurocirurgiões, advogados, engenheiros que tenham uma tatuagem na testa.
Pode alertá-lo que se ele se arrepender, pode trocar uma tatuagem por uma mancha.
Pode alertá-lo que a borboleta zen ou a flecha de Zeus pode não lhe ser tão atraente daqui a cinquenta anos, depois que a pele ficar enrugada pela idade.
Você poderia se antecipar e mostrar uma tatuagem de imitação no seu próprio braço com Super-Homem ou então Batman, para ilustrar como os heróis e símbolos de há trinta anos se tornam ridículos em homens de sessenta anos de idade, trinta anos depois.
Você aceitaria ser operado no cérebro por um neurocirurgião com uma tatuagem na testa?
Por que não?
Porque testa não é um local adequado para se colocar uma tatuagem. Quem disse?
Que preconceito é esse?
E, se a tatuagem for de uma caveira? Sim, ou não?
Seja honesto, nada de preconceitos.
Entre um neurocirurgião que mostra uma tatuagem na testa de uma caveira e outro que mostra um diploma de Harvard na parede, qual dos dois você escolheria?
Se o seu filho não tem preconceito, ótimo, mas o que vamos fazer com as pessoas que acham estranho neurocirurgião com tatuagem na testa?
Vamos obrigar pacientes preconceituosos a escolher os neurocirurgiões tatuados através de uma nova lei?
Um sistema de “quotas”?
Cirurgiões tatuados terão o direito de fazer pelo menos vinte operações por ano, e os pacientes serão escolhidos aleatoriamente, contra sua vontade, a favor da causa de “extirpação de preconceitos burgueses”?
2. Tatuagens sempre foram parte da nossa sociedade.
Eram distinções que se davam aos jovens da tribo pela sua bravura, coragem ou status, como até hoje fazemos com nossos militares.
Só que hoje eles usam roupa e por isso usamos medalhas.
Tatuagens dão status, respeito.
Eu confesso que tenho uma tatuagem que eu coloco bem em evidência na minha sala de trabalho.
Ela é vermelha, com um selo de ouro, com meu nome e o da Universidade de Harvard escritos.
Quem vê minha tatuagem no meu escritório se impressiona, faz sinal de respeito e comenta como deve ter sido difícil conquistá-la.
Portanto, eu não seria contra um filho querer uma tatuagem.
É o tipo de tatuagem que deveria ser discutido.
Não aquela comprada numa esquina por um tatuador desconhecido.
Mas uma tatuagem conquistada e reconhecida pela sociedade, por mérito, e não pelo dinheiro pago ao tatuador.

Comentários

Unknown disse…
Parabéns, pelo o trabalho. Esse texto nos faz pensar e repensar varias vezes. Em preconceito, em respeito, e também na questão da ética libertária. Onde ninguém tem o direito de falar o que devemos ou não devemos fazer. Porém sim explicar quais serão as consequência que vamos enfrentar adiante.

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